terça-feira, 11 de outubro de 2011

TEXTOS DO LIVRO ...

TEOLOGIA ESPIRITUAL

"MARAVILHOSA BÍBLIA - A ARTE DE LER A BÍBLIA COM O ESPÍRITO"
EUGENE H. PETERSON
Páginas 14 - 15 E 29- Editora Mundo Cristão -São Paulo - 2008.
O Autor nos desafia a ler as Escrituras segundo o que elas realmente são - a revelação de Deus - e a vivê-las, à medida que as lemos. Peterson alerta para o hábito de ler a Bíblia em busca da satisfação de necessidades pessoais e apresenta a possibilidade de sermos enriquecidos pela Palavra, a partir de uma leitura conduzida pelo Espírito.

 "EM UM SÁBADO DE OUTUBRO, ao meio-dia, minha esposa foi buscar nosso neto de sete anos na Igreja da Santa Natividade. Hans vinha frequentando uma classe de preparação para a primeira comunhão. Em seguida, tomaram a direção de um museu local, onde visitaram uma exposição de pedras preciosas dirigida ao público infantil. No caminho, sentaram-se no banco de um parque da cidade para almoçar. Hans falava o tempo todo desde que haviam saído da igreja. Terminado o almoço - o dele era um sanduíche de alface e maionese que preparara sozinho, conforme explicara: "Estou tentando comer alimentos mais saudáveis" -, Hans afastou-se da avó, pegou na mochila um Novo Testamento que acabara de receber do pastor, abriu, ergueu à altura dos olhos e começou a ler, movendo os olhos ao longo da página, em silêncio tão profundo quanto incomum. Um longo minuto depois, ele fechou o Novo Testamento e o guardou novamente na mochila. "Tudo bem, vovó, estou pronto. Vamos ao museu."
 A avó ficou impressionada. Também achou graça, pois Hans ainda não sabe ler. Ele quer ler. A irmã sabe ler. Alguns de seus amigos também sabem, mas Hans ainda não aprendeu. E ele sabe que não sabe ler. De vez em quando, ele anuncia: "Eu não sei ler", como se tentasse nos lembrar o tempo todo do que ele está perdendo.
 O que ele fazia, então, ao ler o Novo Testamento no banco do parque naquele sábado de outubro?
 Mais tarde, quando minha esposa me contou essa história, também fiquei intrigado e achei graça. Alguns dias depois, porém, a história ganhou contornos de parábola em minha mente. Na ocasião, eu estava totalmente envolvido na preparação deste livro, uma longa conversa sobre a prática da leitura espiritual. Achava difícil concentrar meus potenciais leitores no tema. Eles continuavam se transformando em uma multidão sem rosto, composta por gente que lê ou não lê a Bíblia, gente que a ensina e gente que a anuncia. Será que existe algum impedimento, alguma dificuldade comum a todos nós quando pegamos nossas Bíblias e abrimos? Acredito que sim. E foi Hans quem me colocou no foco.
***
Leio a Bíblia desde que era apenas um pouco mais velho que Hans. Vinte anos depois de começar a ler a Palavra, eu tornei pastor e professor; por mais de cinquenta anos, tenho me empenhado para gravar as Escrituras na mente e no coração, nos braços e nas pernas, nos ouvidos e na boca de homens e mulheres. Não considero tarefa fácil. E por que não é fácil?
 A questão pode ser resumida da seguinte maneira: no que diz respeito às Escrituras cristãs, o desafio - nunca desprezível - é fazer que sejam lidas, mas em seus próprios termos, como a revelação de Deus. à primeira vista, parece ser a coisa mais fácil do mundo. Depois de cinco ou seis anos de estudos que a congregação inteira ajuda a pagar, a maioria de nós consegue ler quase tudo que está na Bíblia. Se você não tem um exemplar e não tem condições de comprar, pode encontrar uma Bíblia em qualquer hotel do país e levar para casa. E sem medo de ser preso: quem neste mundo foi alguma vez acusado de mau comportamento e mandado para a prisão por roubar uma Bíblia?
 No entanto, quando se trata de vida cristã, um dos aspectos mais negligenciados está diretamente relacionado à questão da leitura das Escrituras. é verdade que o cristão possui Bíblia e se entrega à leitura desse livro, que considera a Palavra de Deus. No entanto, negligencia a leitura das Escrituras de maneira formativa: ler para viver.
 Lá estava Hans no banco do parque, os olhos percorrendo as páginas de sua Bíblia, lendo sem ler; reverente e concentrado, mas sem compreender; honrando esse livro da maneira mais preciosa, mas sem perceber sua relação com o sanduíche de alface e maionese que acabara de comer ou com o museu que estava prestes a visitar, alheio à avó ao seu lado; Hans lendo sua Bíblia. Uma parábola.
 Uma parábola sobre a despersonalização das Escrituras, transformadas em um objeto a ser honrado; desligadas dos fatos que precedem e se sucedem à sua leitura, do almoço e do museu; as Escrituras em um parque, muito acima da vida nas ruas; um texto colocado num pedestal como um monumento ao livro, protegido dos ruídos e do mau cheiro do diesel exalado pelos caminhões por um gramado amplo e bem cuidado.
 É tarefa do Diabo destruir a ternura e a inocência de Hans, perpetuando-as em uma vida inteira de leitura marcada por uma leitura dedicada, porém, indiferente.
 Contrariando o Diabo, faço questão de dizer que, para ler as Escrituras adequada e corretamente, é necessário, ao mesmo tempo, vivê-las - não que esse deva ser um pré-requisito para a leitura da Bíblia, mas devemos vivê-la enquanto lemos, vida e leitura recíprocas, linguagem corporal e palavras ditas, ir e vir, incorporando a leitura à vida, a vida a leitura. Ler as Escrituras não é uma atividade distinta de viver o evangelho, mas integrada nele. Significa deixar que o outro participe de tudo o que dizemos e fazemos. é assim mesmo, muito fácil. E também difícil."

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"Eu sou o pão da vida. Os seus antepassados comeram o maná no deserto, mas morreram. Todavia, aqui está o pão da vida que desce do céu, para que não morra quem dele comer."
João 6.48-50

Saber muito e não saborear nada - de que adianta isso?
Bonaventure

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